vendo assim tão quietinho
dá uma sensação tão boa
de felicidade fininha ...
de mãozinha quentinha!
essa noite tão fria...
trouxe a saudade
do jeitinho mancinho
de ficar assim bem juntinho!
e que bom seria
ficar de mãos dadas
adentrar a madrugada
enquanto o soninho corria ...ZzzZzz
é desse jeito assim
que me sinto feliz
com toda saudade
e essa tal fê...lícidade!
Eline Barreto.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Do nascimento à vida
desde o nascimento, quando tudo é uma descoberta,
a vida é uma estranha senhora
e as senhoras vão cuidar de seus jardins
com flores vermelhas escuras
e as flores vermelhas escuras vão perfumar
com suas fragrâncias despertadoras
que despertam corações desorientados
escondidas atrás de muros de longínquas estradas
para que o misterioso não continue onde está
e o nascimento surja como o esplendor do renascer
perante vida que não volta mais
diante de mortes que são finais
sentimentos resistem mesmo quase terminais
a vida não pede licença para existir
nem um palmo a menos
nem uma légua se desfaz
segue firme como sempre
com a sensação daquelas corajosas senhoras
que regam os jardins de flores vermelhas escuras
como a mãe de Pavel
como nossa mãe
como a mãe da vida
Cláudio de Souza Mendonça
20.02.2008
a vida é uma estranha senhora
e as senhoras vão cuidar de seus jardins
com flores vermelhas escuras
e as flores vermelhas escuras vão perfumar
com suas fragrâncias despertadoras
que despertam corações desorientados
escondidas atrás de muros de longínquas estradas
para que o misterioso não continue onde está
e o nascimento surja como o esplendor do renascer
perante vida que não volta mais
diante de mortes que são finais
sentimentos resistem mesmo quase terminais
a vida não pede licença para existir
nem um palmo a menos
nem uma légua se desfaz
segue firme como sempre
com a sensação daquelas corajosas senhoras
que regam os jardins de flores vermelhas escuras
como a mãe de Pavel
como nossa mãe
como a mãe da vida
Cláudio de Souza Mendonça
20.02.2008
No Caminho, com Maiakóvski
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Aprendizado
Ferreira Gullar
Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
De Barulhos (1980-1987)
Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
De Barulhos (1980-1987)
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
As Megacidades
se têm então estas megacidades,
vêm acompanhadas de suas megaperiferias,
trazendo cedo,
antes de ver o sol,
um exército de mãos, pés e corações
andando pelos labirintos
dos espaços opacos,
dos sinais intrafegáveis
lá se vêm as megacidades
do porto ao lado
vários achados
presos, hospícios, cadeados.
certezas fúteis que tudo encalha
no noticiário
as mesmas cenas
que foram transmitidas ano passado
histórias dos nossos passos largos,
da concentração da produção no luminoso espaço
no corrimão da vida podre
normal para quem vive a rir
do desprezo fato de todos os seres
que cedo madrugam para resistir
na vida toda desde o nascer,
se vê que corre os rios assim
dia de suor, sem pormenores
com as fardas no corpo pronto a partir
lá se vêm de novo as megacidades
com suas construções horizontais
sem palmo dado sem arriscar
a própria vida,
com sussurros aloprados
são mais de 10 milhões de vidas ali estando
com passeatas, desigualdades e homens fingindo
que tudo é uma maravilha
Cláudio de Souza Mendonça
08.10.2007
vêm acompanhadas de suas megaperiferias,
trazendo cedo,
antes de ver o sol,
um exército de mãos, pés e corações
andando pelos labirintos
dos espaços opacos,
dos sinais intrafegáveis
lá se vêm as megacidades
do porto ao lado
vários achados
presos, hospícios, cadeados.
certezas fúteis que tudo encalha
no noticiário
as mesmas cenas
que foram transmitidas ano passado
histórias dos nossos passos largos,
da concentração da produção no luminoso espaço
no corrimão da vida podre
normal para quem vive a rir
do desprezo fato de todos os seres
que cedo madrugam para resistir
na vida toda desde o nascer,
se vê que corre os rios assim
dia de suor, sem pormenores
com as fardas no corpo pronto a partir
lá se vêm de novo as megacidades
com suas construções horizontais
sem palmo dado sem arriscar
a própria vida,
com sussurros aloprados
são mais de 10 milhões de vidas ali estando
com passeatas, desigualdades e homens fingindo
que tudo é uma maravilha
Cláudio de Souza Mendonça
08.10.2007
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