terça-feira, 17 de agosto de 2010

Quando pudermos descansar no bosque



de tanto chamar
escuto novamente. uma voz doce
acalentando as avenidas estressantes das cidades.

de tanto amar
sinto exatamente. a flor renasce
exalando perfume nestas estafantes avenidas.

tanto tentam. fecham constantemente as portas
esquecendo que vozes
ultrapassam paredões.

tanto fazem. aprisionam nossas mentes
esquecendo que o sangue pulsa
em nossos aguerridos corações.


Cláudio de Souza Mendonça
16.08.2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O policial e o pequeno trabalhador morto



seria cruel relembrar. mas não se pode esquecer.
estejamos acordados. não durmamos mais.
sei que a revolta toma conta dos peitos. não poderia ver sofrimento ali.
a dor da partida súbita e grosseira
quando tão pouca vida ainda existente
conduziu ao funeral uma vida ainda aflorar.
noutra, com o peso da obrigação militar
cumpre o destino ensinado nas academias
“matar, matar e matar”

pobres homens. um pai ao grito deitado sobre eterno sono do seu filho.
outro homem fardado, ao desespero do ato desgraçado.

um corpo tão jovem ainda, abatido por um perverso tiro
outro, em pé, arrependido, por seu sangue frio.

teria culpa apenas aquele policial assassino?

seria cruel relembrar. mas não se pode deixar partir
para que se atente para o escondido.
antes das fardas, meros homens.
ao se vestirem e partirem para patrulhar
homens de ferro, aço e cimento.
que ao primeiro passo não obedecido
as armas são logo apontadas.
cumprem fielmente apenas o destino ensinado nas academias
“matar, matar e matar”

Cláudio de Souza Mendonça
28.07.2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

João Boa Morte Cabra Marcado para Morrer


"Essa guerra do Nordeste
não mata quem é doutor.
Não mata dono de engenho,
só mata cabra da peste,
só mata o trabalhador.
O dono de engenho engorda,
vira logo senador.

Não faz um ano que os homens
que trabalham na fazenda
do Coronel Benedito
tiveram com ele atrito
devido ao preço da venda.
O preço do ano passado
já era baixo e no entanto
o coronel não quis dar
o novo preço ajustado.

João e seus companheiros
não gostaram da proeza:
se o novo preço não dava
para garantir a mesa,
aceitar preço mais baixo
já era muita fraqueza.
"Não vamos voltar atrás.
Precisamos de dinheiro.
Se o coronel não quer dar mais,
vendemos nosso produto
para outro fazendeiro."

Com o coronel foram ter.
Mas quando comunicaram
que a outro iam vender
o cereal que plantaram,
o coronel respondeu:
"Ainda está pra nascer
um cabra pra fazer isso.
Aquele que se atrever
pode rezar, vai morrer,
vai tomar chá de sumiço [...]".

Ferreira Gullar

(Leia Ferreira Gullar e conheça esta poesia completa)

A eterna esperança

os bons dias um dia serão diferente?
é a eterna esperança.
conduzindo entre as enxurradas das noites calientes
e a eletricidade frenética dos dias
suor qualquer,
o nosso.

a solidão das grandes metrópoles
camuflada pelas histerias e psicoses.
sempre saídas fáceis são apresentadas.
é a eterna estreiteza
de sofrimentos calejados
não.. não... não posso acreditar que seja isso a saída.


estrondos são comunicados
nos emails, blogs, microblogs
aqui, ali... muitos saberão... quase todos
mas não somos uma aldeia global
sorrindo do mesmo jeito,
chorando da mesma maneira.


não... não deixarei de acreditar na eterna esperança

diante do culto à angustia,
à solidão das avenidas movimentadas,
aos ambientes psicóticos,
seguimos com pé no chão a eterna esperança


Cláudio de Souza Mendonça
20.07.2010

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


Canção da última despedida

Saídas como estás são tão atrativas
Somente hoje
no entardecer do dia
alguns inúmeros corriam pelas ruas
Comum além dos sustos
as esfareladas vidas: também um esforço de esperança

é justamente lá
entre becos, ruelas e corações partidos
vozes soam tristemente mais uma partida, tantas....

sem nem tempo pra dizer adeus

não mais último beijo
nem abraço
carinho
se foram.....


Cláudio de Souza Mendonça
13.01.2010