sexta-feira, 25 de novembro de 2011
As suas bonecas, os seus sonhos
lá está a Maria Cascuda, sentada
olhando será o que
se nem pode me responder?
sei que ela brinca em silêncio com Maluzinha
tentando ter a atenção da Clarissa
ou talvez do Luís
brincam querendo acordar, descansar
na hora que bem querer
sem precisar
que a luz as chamem
ou a escuridão as façam dormir
sei que a Mônica, Juju, Tetê, Amarelinha
expressam sons bem distinto dos nossos aqui
mas qual a importância
se tu, Anita,
queres mesmo é assim?
brincar da forma que bem querer
sem tempo de parar
quer ser feliz
ali, em sua cama,
com seus travesseiros e lençóis
o mundo gira
com suas amiguinhas de fantasia
brinque. Nem pense em deixar de brincar
com seus tantos personagens
que emergem de sua imaginação
assim vai brincando, sem se preocupar
com a caduquice do tempo
seus delírios
e venenos
Cláudio de Souza Mendonça
23.05.11
Poesia dedicada a Aninha e suas amiguinhas de travesseiros
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Estrelas
Escutai! Se as estrelas se acedem
será porque alguém precisa delas?
Porque alguém as quer lá em cima?
Será que alguém por elas clama,
por essas cuspidelas de pérolas?
Ei-lo aqui, pois, sufocado, ao meio-dia,
no coração dos turbilhões de poeira;
ei-lo, pois, que corre para o bom Deus,
temendo chegar atrasado,
e que lhe beija chorando
a mão fibrosa.
Implora! Precisa absolutamente
duma estrela lá no alto!
Jura! Que não poderia mais uportar
essa tortura de um céu sem estrelas!
Depois vai-se embora,
atormentado, mas bancando o gaiato
e diz a alguém que passa:
"Muito bem! Assim está melhor agora, não é?
Nõa tens mais medo, hein?"
Escutai, pois!Se as estrelas se acedem
é porque alguém precisa delas.
É porque, em verdade, é indispensável
que sobre todos os tetos, cada noite,
uma única estrela, pelo menos, se alumie.
Vladimir Maiakovski
sábado, 19 de novembro de 2011
O meu amigo, a faca e alguém
o meu amigo foi esfaqueado
perguntariam as mais sinceras perguntas
no enlameado choro e candura
“quem foi o desgraçado?”
ali, as fúrias dos mortais. Outros rezam.
pedem desesperadamente que o médico do céu o opere.
a ira nos olhos. A vontade de ir até quem fez isso
e com o sopro de gigantismo arrombar o responsável
do quarto onde o meu amigo esfaqueado se encontra
alguns cochicham. “O que teria ocorrido”
a resposta, brilhantemente..Sábios senhores
“ele vacilou voltando aquele horário”
BRAVO!
diriam a nós a imensidão de cérebros cinzentos
abertos pela pedra filosofal de nossos tempos
fechados pela simbologia de tantos tempos
tudo igual!
sempre o mesmo dizer
só que meu amigo está lá na cama esfaqueado
alguma mão fez isso. Quem pagará?
rogai enfim pela justiça
esperaremos sim. Ela tarda, mas vem.
oh! Mas como vomitar estas coisinhas dos códigos penais
e chorar de emoção onde sentimentos não existem?
gritar por alguém
onde ninguém ali habita?
das leis, apenas letras,
recheadas de baboseiras dos célebres juristas da paz
de lá se espera algo?
nascerá alguma rosa dos tribunais
ou permitirão que os jardins exalem seus aromas
sem serem molestados por algum capataz?
estamos diante dos tribunais
do processo inquisitório
que todo dia condena uma imensidão de corações machucados
e coroa - engrandecidos
com os mais belos louros - uma minoria bastarda
BRAVO, BRAVO...
esperamos pela grade
e que lá apodreça a mão que esfaqueou meu amigo?
nas ruas de lá
onde meu amigo esfaqueado se encontra
deitado
se recuperando
assistindo a seu time ser rebaixado
as palavras soam docemente
como se nem tivesse ferido
nem tivesse sido gravemente atingido
lá, nas ruas que meu amigo reside
uns queriam junto com outros uma resposta ali dar
com porretes, pedras e outras coisinhas básicas mais
encontrar a maldita mão...
os desgraçados passos...
os endemoniados olhos...
achar o infernizante jovem que aquilo fez
lá, nas mais entupidas ruas,
onde o lixo se torna habitual
casas paupérrimas tentam ainda se soerguer
alguns rezam
oram
sabem bem que o leão de Judá
o todo criador
e seus pastores e anjos
darão a verdadeira justiça
a justiça dos túmulos
ilusória justiça....
maldita justiça
BRAVO, BRAVO, BRAVO....
lá... não tão só naquelas ruas
se busca encontrar a mão
aquela suja mão pelo sangue do meu amigo
certamente se saberá o que fazer
já que leis existem
e confiná-lo entre grades é a mais bela solução
como meu peito vibra
meus lábios se deliciam
pois atrás da grade estará aquele infeliz
o apodrecido que esfaqueou meu amigo
lembre-se bem. Meu amigo foi esfaqueado
ele clama por justiça
clama
clama
e clama..e chora...
lá, no internato moderno,
não seria lá igual com o daqui de fora?
a porca comida que se come naquele antro de “assassinos”
não é a mesma imundice que se come do lado de fora. Cá?
o furto cometido por estes infelizes
seria menor que os rombos congressuais, legais?
no desespero do momento.. O meu amigo gritava de ira
“seria melhor que este desgraçado morresse”
na sua sã consciência.. o meu amigo nos diz
“buscarei a lei”
mas meu amigo, muito feliz, vamos lá..
diz..
“ mas quem mesmo faz as leis?”
“quem mesmo me esfaqueou?”
a ti, sim, meus mais autênticos BRAVOS
poderia decidir como um tribunal
sentenciar a vida como ela é
deixar-me ir embora de mim qualquer pensar distinto
compreensão que para os não condenados pela inquisição
é mera provocação
ingenuismo
utopismo
soube lembrar bem, querido amigo,
dos olhos daquele jovem ali
e jamais se esqueceu dos seus criadores
desses tantos jovens
que com a faca na mão
desesperadamente mostram de uma forma desconfortável
“vejam! Sou apenas um produto”
Cláudio de Souza Mendonça
26.10.2009
O enterro
há uma sensação estranha em meu peito
ocorre aqui a saudade?
tudo visto na minha frente
anda em câmera-lenta
devagar teima em prosseguir
como se não fosse chegar lá
tenho a entender
este meu momento-dia-hora
parecido como qualquer um
vai seguindo com passos lentos
quase dormindo
diferente do sono eterno
dos que nunca vão se levantar
pode ser o cansaço
de viver?
não!
apenas físico
estafamento anunciado
dessas jornadas, compromissos, ordens...
seria este dia apenas um soluçar
de uma voz escondida
ela há de sair
explicar tudo
o peito apertado
a saudade
os sonhos
quase durmo acordado
refazendo tudo
lembrando do que poderíamos ter feito juntos
hoje já não se pode mais
nunca mais
nunca mesmo
13.09.2007
Cláudio Mendonça
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