sábado, 19 de novembro de 2011

O meu amigo, a faca e alguém




o meu amigo foi esfaqueado
perguntariam as mais sinceras perguntas
no enlameado choro e candura
“quem foi o desgraçado?”
ali, as fúrias dos mortais. Outros rezam.
pedem desesperadamente que o médico do céu o opere.
a ira nos olhos. A vontade de ir até quem fez isso
e com o sopro de gigantismo arrombar o responsável

do quarto onde o meu amigo esfaqueado se encontra
alguns cochicham. “O que teria ocorrido”
a resposta, brilhantemente..Sábios senhores
“ele vacilou voltando aquele horário”

BRAVO!

diriam a nós a imensidão de cérebros cinzentos
abertos pela pedra filosofal de nossos tempos
fechados pela simbologia de tantos tempos
tudo igual!
sempre o mesmo dizer
só que meu amigo está lá na cama esfaqueado
alguma mão fez isso. Quem pagará?

rogai enfim pela justiça
esperaremos sim. Ela tarda, mas vem.
oh! Mas como vomitar estas coisinhas dos códigos penais
e chorar de emoção onde sentimentos não existem?
gritar por alguém
onde ninguém ali habita?
das leis, apenas letras,
recheadas de baboseiras dos célebres juristas da paz
de lá se espera algo?

nascerá alguma rosa dos tribunais
ou permitirão que os jardins exalem seus aromas
sem serem molestados por algum capataz?

estamos diante dos tribunais
do processo inquisitório
que todo dia condena uma imensidão de corações machucados
e coroa - engrandecidos
com os mais belos louros - uma minoria bastarda

BRAVO, BRAVO...

esperamos pela grade
e que lá apodreça a mão que esfaqueou meu amigo?

nas ruas de lá
onde meu amigo esfaqueado se encontra
deitado
se recuperando
assistindo a seu time ser rebaixado
as palavras soam docemente
como se nem tivesse ferido
nem tivesse sido gravemente atingido

lá, nas ruas que meu amigo reside
uns queriam junto com outros uma resposta ali dar
com porretes, pedras e outras coisinhas básicas mais
encontrar a maldita mão...
os desgraçados passos...
os endemoniados olhos...
achar o infernizante jovem que aquilo fez

lá, nas mais entupidas ruas,
onde o lixo se torna habitual
casas paupérrimas tentam ainda se soerguer
alguns rezam
oram
sabem bem que o leão de Judá
o todo criador
e seus pastores e anjos
darão a verdadeira justiça
a justiça dos túmulos
ilusória justiça....
maldita justiça

BRAVO, BRAVO, BRAVO....

lá... não tão só naquelas ruas
se busca encontrar a mão
aquela suja mão pelo sangue do meu amigo

certamente se saberá o que fazer
já que leis existem
e confiná-lo entre grades é a mais bela solução

como meu peito vibra
meus lábios se deliciam
pois atrás da grade estará aquele infeliz
o apodrecido que esfaqueou meu amigo

lembre-se bem. Meu amigo foi esfaqueado
ele clama por justiça
clama
clama
e clama..e chora...

lá, no internato moderno,
não seria lá igual com o daqui de fora?

a porca comida que se come naquele antro de “assassinos”
não é a mesma imundice que se come do lado de fora. Cá?

o furto cometido por estes infelizes
seria menor que os rombos congressuais, legais?

no desespero do momento.. O meu amigo gritava de ira
“seria melhor que este desgraçado morresse”
na sua sã consciência.. o meu amigo nos diz
“buscarei a lei”
mas meu amigo, muito feliz, vamos lá..
diz..
“ mas quem mesmo faz as leis?”
“quem mesmo me esfaqueou?”
a ti, sim, meus mais autênticos BRAVOS

poderia decidir como um tribunal
sentenciar a vida como ela é
deixar-me ir embora de mim qualquer pensar distinto
compreensão que para os não condenados pela inquisição
é mera provocação
ingenuismo
utopismo

soube lembrar bem, querido amigo,
dos olhos daquele jovem ali
e jamais se esqueceu dos seus criadores
desses tantos jovens
que com a faca na mão
desesperadamente mostram de uma forma desconfortável
“vejam! Sou apenas um produto”

Cláudio de Souza Mendonça
26.10.2009

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